A Associação Cervejeiros de Portugal reuniu várias personalidades no webinar “Um brinde à mesa de um novo Horeca”, para fazer um retrato sumário do impacto da pandemia no setor cervejeiro e no mercado da restauração.

O encontro contou com a participação do Secretário Geral da Associação Cervejeiros de Portugal, Francisco Gírio, do Diretor Geral da Associação Cerveceros de España, Jacobo Olalla Marañón, do Chef Executivo e proprietário do Grupo Avillez, José Avillez, e do Chef Executivo e proprietário do Grupo Quina, Vítor Sobral.

 Francisco Gírio fez um balanço do impacto da pandemia no mundo cervejeiro e reiterou que a associação está empenhada em “participar na retoma dos dois setores: o cervejeiro e o HORECA”, e fez uma menção especial aos profissionais cervejeiros e respetiva conduta durante o pico da pandemia: “mobilizou-se, implementou fortes ações de solidariedade social - mais de um milhão de litros de desinfetante foram disponibilizados a instituições".

SobralVítor Sobral

 Sobre a relação com o canal Horeca, Francisco Gírio afirmou que as taxas de ocupação na retoma estão entre os 20 e os 50%, e que as encomendas de cerveja têm sido modestas, derivado ao quadro geral. "Somos o país europeu mais dependente do canal Horeca para a venda de cerveja: 70% do consumo de cerveja é consumido neste canal, o que equivale a 80% do valor do sector", afirmou.

Na vizinha Espanha, o quadro não é melhor: “O volume de vendas em maio deste ano ronda os 52% do que se vendeu no mesmo período do ano passado" e que “o consumo de cerveja em Espanha, no canal Horeca, rondava os 68% antes da pandemia”, explicou Jacobo Marañon.

AvillezJosé Avillez

 

O impacto para os restaurantes

José Avillez mantém a esperança de que, com o tempo, voltaremos a estar juntos, sem máscaras e a partilhar uma cerveja gelada. Porém, diz, tudo isto chegou sem aviso e os restaurantes foram fortemente impactados.

Manter os custos enquanto se fatura zero é um desafio tremendo, sendo que os serviços como o Take Away e o Delivery serviram para manter o contacto com os clientes, manter parte das equipas ativas e motivadas, embora sejam serviços que por vezes representam mais custos do que ganhos. “São uma aspirina para a estrutura de custos”, diz Vítor Sobral.

Francisco GíriasFrancisco Gírio

A necessidade da retoma do turismo e de medidas efetivas de apoio

"No ano passado, no mês de junho, havia 3,5 milhões de turistas em Portugal, mas hoje temos 5 mil, muitos deles a visitar zonas rurais", explica José Avillez. Na capital Lisboa, o chef reporta que há espaços com perdas de 95% e que os que estão a retomar a atividade ainda assinalam perdas que atingem os 40%, e que se somam aos prejuízos dos meses de confinamento.

Urge, dizem ambos os cozinheiros, mais apoio do governo. "Não há emprego sem empresas, como não há ovos sem galinhas. Só se pode defender um posto de trabalho defendendo a empresa”, diz Avillez. "Quem sempre cumpriu deve ser visto de forma diferente pelo Estado português" aponta Vítor Sobral, relembrando que apesar de nada ser mais valioso que a vida, “temos de tomar cuidado com a economia”.

Vitor Sobral mencionou que o Inverno poderá ser ainda mais penoso e que os fornecedores, como os da distribuição de bens alimentares, deveriam tomar ações como praticar prazos de pagamento mais flexíveis, pois “nesta fase, toda a ajuda é bem-vinda”.

Vítor Sobral apelou a que as grandes marcas utilizem algum do budget reservado para a publicidade, em campanhas para incentivar o consumo nos espaços de restauração, “para criar confiança ao consumidor”.

Há novos receios e novos hábitos, porém, dadas as imposições de segurança, “a não ser que as pessoas desinfetem todos os ingredientes quando vão às compras, é mais seguro consumir num restaurante do que em casa”, diz Avillez.

Enquanto esperam por melhores dias, Avillez e Sobral garantem é imperativo retomar a atividade, pois a economia é uma ciência social e não matemática. "Temos de ser responsáveis. Utilizar a máscara quando estamos com outros. Lavar as mãos e as superfícies e termos um controlo efetivo nas fronteiras e aeroportos", diz Avillez, que coloca a responsabilidade, em cada um de nós, de garantir que “defendemos a vida sem morrer da cura”.