Cabrito estonadoO Museu da Cerveja, no Terreiro do Paço em Lisboa, tem agora uma receita ancestral na sua ementa: o cabrito estonado. A entrada da nova receita no cardápio resulta do trabalho de investigação dos profissionais do espaço gastronómico.


“O prato de “cabrito estonado” é a recuperação de uma receita medieval de cabrito assado no forno, com uma particularidade única: é assado com a sua pele, passando anteriormente por um processo de “estonagem”, que não é mais do que a remoção de todo o pelo do animal. Mantendo a pele, que fica estaladiça, o cabrito não perde os seus sabores, ganhando a sua carne em suculência e paladar”, refere Pedro Dias, Director do Museu da Cerveja.

O Museu da Cerveja desenvolveu um espaço próprio para o processamento do “cabrito estonado”, com um processo de assadura inovador, de modo à oferta estar disponível ao público consumidor nos 365 dias do ano.

A primeira vez que surge uma referência documental ao cabrito estonado é num antigo livro de cozinha da região do Al-Andalus (o ocidente da Península Ibérica) do século XIII. Em 1624 será a vez do jesuíta português António de Andrade, o primeiro ocidental a chegar ao Tibete, que narrará as delícias deste pitéu.
O cabrito estonado resistiu ao tempo. E contudo, pouco sabemos das suas origens. Sabemos que é um prato bem conhecido desde tempos antigos pelas tribos beduínas da Península Arábica; sabemos que os povos nómadas da Síria, do Iraque, do Egito ou da Líbia o saboreiam há séculos; sabemos que os cristãos arménios o elegeram há muito como o seu pitéu predileto; sabemos que o povo judeu também o aprecia desde sempre; sabemos que no antigo Al-Andalus era um reputado petisco; sabemos que por cá se manteve em alguns locais, sendo a vila de Oleiros um exemplo.

Sabemos ainda que a sua origem não é étnica mas religiosa, pois é um prato historicamente partilhado pelas três religiões herdeiras do profeta Abraão: o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo.

O cabrito estonado é parte do património português devido à permanência árabe entre nós. Mas também é herança de vários povos e das três principais religiões abraâmicas. Saboreá-lo é um ato de prazer; mas também será uma lição de História e até uma partilha entre pessoas de bem que sabem esquecer divergências religiosas fictícias para se irmanarem numa mesa comum.