Casa dos Ovos Moles em LisboaA «Casa dos Ovos Moles em Lisboa», projecto com certificação da APOMA – Associação de Produtores de Ovos Moles de Aveiro, abriu portas no Mercado de Campo de Ourique. Em hóstia, na barrica ou com outras sugestões, aqui a doçaria conventual é a rainha. O projecto foi criado a partir de capitais próprios e surge pelas mãos das empreendedoras Filipa Cordeiro e Maria Dagnino.



“Na «Casa dos Ovos Moles em Lisboa» não vão faltar histórias seculares para contar, workshops para mostrar a arte de bem-fazer este doce que não se faz por milagre, vinhos, licores e outros néctares bem portugueses para acompanhar” revela Maria Dagnino.

Aberta de quinta a sábado, das 10h00 até à 01h00, e das 10h00 às 23h00 nos restantes dias, este primeiro espaço da marca pretende ser o ponto de partida para levar os Ovos Moles ao mundo inteiro. “Já era tempo de um doce que é o nosso “ai Jesus” da Doçaria Conventual “descer” até à capital para conquistar um lugar de destaque. Para isso nada melhor do que estar no Mercado de Campo de Ourique, um lugar onde mora a tradição” refere Filipa Cordeiro. “Queremos pôr nas bocas do mundo este “português de gema” e fazer desta Casa um ponto de passagem obrigatório, não só para os turistas, mas sobretudo para os lisboetas” conclui.

Filipa Cordeiro tem 40 anos, licenciada em comunicação empresarial. Começou a carreira em 1995 como estagiária na Mccann Erickson Portugal. Especializou-se na área de Brand Experience, desenvolvendo competências nas áreas de consultoria, estratégia e criativa. Presentemente assume a função de Brand Manager na Brandia Central. Maria Dagnino tem 39 anos, é casada e mãe de três filhos. É produtora de eventos há 15 anos nas agências Maismercado, Central de Comunicação e Brandia Central, onde a área que mais gostava era a do catering.

História dos Ovos Moles de Aveiro

Reza a lenda que uma gulosa freira do Convento de Jesus, castigada com jejum forçado pela madre superiora, desobedeceu inventando uma mistura de gemas de ovo e muito açúcar que escondeu na massa das hóstias, para não ser apanhada em flagrante. Milagre! - gritou-se no convento no dia seguinte, porque doce tão perfeito só poderia ter sido enviado por Deus. E se a explicação é mais prosaica – como muita da doçaria conventual portuguesa, o doce dava destino às gemas de ovo que sobravam das claras que as freiras usavam para engomar os hábitos.
Os ovos-moles existem há cerca de 500 anos, graças à política de aproveitamento dos conventos. Na altura, era hábito as pessoas oferecerem galinhas às religiosas. As freiras pegavam depois nos ovos e dividiam as claras das gemas. As claras eram aquecidas e utilizadas para engomar as partes mais difíceis da roupa, como as golas, fazendo com que ficassem muito duras. Sobravam as gemas, que não serviam para nada e que tinham um prazo de validade muito curto. Até que uma das freiras do Convento de Jesus, em Aveiro, lhes juntou açúcar e percebeu que, quanto mais açúcar juntasse, mais as gemas aguentavam sem se estragar. Para além disso, as gemas com o açúcar davam um doce muito bom. Começava assim a história dos ovos-moles.
Aquando da extinção dos conventos, no século XIX (em 1834 são extintos todos os conventos de Portugal), a receita manteve-se através de senhoras que haviam sido educadas nesses conventos e que transmitiram, de geração em geração, o segredo do seu fabrico. Os ovos-moles continuam a misturar-se hoje com a mesma justeza de mãos com que dominicanas, franciscanas e carmelitas os fizeram até ao século XIX e continuam a ser vendidos nas centenárias barricas de madeira moldadas em madeira de choupo (que não confere cheiro ou sabor à massa) e pintadas à mão.

Curiosidades acerca dos Ovos Moles
• As formas tradicionais de apresentação são os motivos em hóstia alusivos à região de Aveiro (peixinho, búzio, amêijoa, mexilhão, navalheira ou lingueirão, concha, barrica de madeira, barrica de aduela, bóia marítima, noz, castanha) e as barricas de madeira (ou cerâmica) onde o doce é vertido.
• Os Ovos Moles de Aveiro devem muita da sua fama à linha de caminho de ferro entre Lisboa e Porto, e às tricanas, que apregoavam o doce quando os comboios paravam na estação de Aveiro:
• Eça de Queiroz, na sua obra "Os Maias", faz referência a esta iguaria "São seis barrilinhos d’ovos moles de Aveiro. É um doce muito ‘chic’ ... Pergunte V. Ex.ª ao Carlos. Pois não é verdade, Carlos, que é uma delícia, até conhecido lá fora? “
• Jô Soares é louco por doces portugueses e faz-lhes uma homenagem no seu livro “As Esganadas”, um bestseller no Brasil, que foi lançado recentemente em Portugal. Os Ovos Moles de Aveiro são o seu doce preferido.